Fotografia Pixabay e DR
“Se fosse possível erguer dois pilares destacando os exemplos mais evoluídos em cada reino, no animal poderiam estar os seres humanos, mas no reino vegetal não há dúvidas de que seriam as Orquídeas“. Essa frase, de autoria desconhecida, sintetiza a essência por detrás dessa planta tão especial: singularidade.
Em todo o mundo, as orquídeas, nome genérico para as plantas da família Orchidaceae, encantam jardineiros, colecionadores, botânicos, paisagistas, decoradores e apreciadores de qualquer área de atuação. É impossível ficar indiferente à beleza sempre estonteante de uma orquídea em flor.
As orquídeas fazem parte de uma família de números grandes. São mais de 25 mil espécies catalogadas (embora algumas fontes já falem em 30 mil), estão presentes em praticamente todos os tipos de habitat e já foram encontradas em todos os continentes, exceto na Antártida. A predominância, porém, é observada em regiões tropicais, em qualquer parte do globo, sendo a América do Sul, a localidade que detém o maior número de espécies de orquídeas no mundo: mais de 4 mil. Já vivem no planeta Terra há muito tempo, estudos de genética molecular estipulam que elas existam há pelo menos 100 milhões de anos. São tão especiais ao ponto de mobilizarem organizações de orquidófilos em muitas cidades do mundo. Grupos de pessoas colecionadoras dessas plantas, que trocam informações e conselhos, vendem mudas, sementes e flores, entre si. Há também os Orquidários, nada mais que jardins botânicos focados no cultivo e manutenção de orquídeas e que funcionam como um verdadeiro banco de dados vivo sobre essas flores tão queridas. Exposições e competições de orquídeas também acontecem em muitos lugares, e normalmente nesses eventos é possível conhecer e ver de perto espécies raras e exóticas, além de híbridos exclusivos ou “lançamentos” de novas espécies. É quase como um parque de diversões para os amantes de orquídeas.
Orchis vem do grego testículo, isso porque um dos primeiros géneros da família a ser descrito foi justamente um no qual as raízes, formadas por dois tubérculos, lembravam o aspeto de gónadas masculinas, esse é o género Orchis, que acabou por batizar o nome da família toda. As plantas orchidaceas são monocotiledóneas, assim como o milho (Zea mays) e a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum). Entretanto, é nas flores que observamos as maiores peculiaridades das orquídeas. Sendo flores que apresentam ambos os sexos – masculino e feminino – são formadas por 3 sépalas (pétala mais alongada e externa que protege a flor enquanto botão) e 3 pétalas, sendo essa última tipologia apresentando uma das pétalas tão modificada e especializada que recebe até mesmo outro nome: labelo (ou lábio em grego). O labelo fica localizado de forma oposta aos órgãos reprodutivos da flor, e é nessa estrutura que a natureza caprichou no requisito versatilidade. O labelo é o grande diferenciador da flor de uma orquídea, pode assumir outras cores, ter mais de uma cor, ter texturas, bordas desenhadas, produzir néctar, exalar perfumes ou odores, funcionar como armadilha e ainda mimetizar (fenómeno natural em que um ser vivo consegue imitar outro) a silhueta de polinizadores. Enfim, é uma pétala mesmo indispensável.
E claro que é impossível falar de orquídea e não mencionar a maravilhosa contribuição para a humanidade na forma de chocolate. Sim, é isso mesmo. Os povos astecas utilizavam o género Vanilla para aromatizar uma bebida espessa, feita à base de cacau e que se destinava à nobreza e aos guerreiros, conhecida por “xocoatl”. Eram os primórdios do que viria a ser um dos alimentos mais importantes do mundo, o famoso chocolate. Como se sabe, até hoje, a baunilha extraída das plantas do género mencionado é ilustre ingrediente na confeitaria e patisserie.
Contudo, é notável também que pouco foi conferido às orquídeas além da beleza em sua interação com o ser humano há muitos séculos. Ela é sumária e principalmente uma planta ornamental, à exceção do já citado anteriormente, gênero Vanilla. E não podemos esquecer que das milhares de espécies existentes, apenas uma quantidade reduzida a algumas centenas é realmente usada para ornamentação, sendo o restante das espécies, produtoras de flores pequenas, com folhagens pouco atraentes. Porém, não importa. Nada disso parece ser capaz de apagar seu brilho ou espantar os seus milhões de admiradores. Sobreviventes a uma série de eventos no planeta, multi polinizadas, adaptáveis e ainda exuberantes, as orquídeas formam um grupo botânico em clara e constante evolução. Habitam a Terra, com sua flor de formato tão peculiar e funcional quanto chamativo e original, e ainda são as responsáveis por deixar qualquer jardineiro amador, que tem um vaso de orquídeas em casa, cheio de felicidade ao vê-las florir.
Isso é ser especial.
Uma litografia colorida de 1899 da autoria de Ernst Haeckel, mostrando uma representação artística de diferentes variedades de orquídeas.
- Odontoglossum naevium
- Oncidium kramerianum
- Odontoglossum ramosissimum
- Cattleya ballantiniana
- Cattleya mendellii
- Cypripedium lemoinier
- Cattleya rochellensis
- Cypripedium leeanum
- Odontoglossum wattianum
- Cattleya labiata
- Epidendrum atropurpureum
- Cypripedium argus
- Paphinia rugosa
- Zygopetalum xanthinum
- Oncidium laxense
A autora é brasileira e vive em Portugal há cinco anos. Bióloga, mestrado em Engenharia Agronómica, estuda, observa e escreve sobre as plantas ornamentais.