Cerejeiras e Macieiras floridas na Primavera evocam o Japão tão do agrado de Monet
Texto : Luisa Mendes Fotografia: Luisa Mendes e Fundação Claude Monet
Quase tudo já foi dito e análises exaustivas feitas em relação a este pintor que cativou admiradores e colecionadores em todo o mundo, mas não restam dúvidas, a sua obra vastíssima transmite-nos algo de belo, seja na pintura seja nos jardins que construiu.
A luz na natureza a grande impulsionadora da obra de Monet.
Monet corria atrás da luz e queria trabalhar sempre no exterior. Não é indiferente o facto de sobre o mesmo motivo, ter mais de 30 telas pintadas a várias alturas do dia, como é o caso da Catedral de Rouen.
Tinha uma necessidade inata de criar e procurar a beleza, a pintura era a sua forma de atingir e transmitir a felicidade. A compreensão da natureza e o amor à arte são fontes diárias de felicidade e os jardins de Giverny são como um laboratório para a conservação e criação.
Quando o óleo sobre tela “Impressão, Nascer do Sol” foi apresentado em 1872 abriu-se uma porta na história da arte. É assim que nasce a corrente artística do Impressionismo que depois se estendeu também à música (Claude Debussy e Maurice Ravel) e à literatura. Monet rompe com a academia vigente, pintura realista e virada para o passado e trilha o seu percurso evoluindo para a modernidade, depois seguido por artistas como Paul Cézanne, Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir, Alfred Sisley…com quem privava e mais tarde influenciando muitos outros como Kadinsky ou Jackson Pollock…
A sua casa era também residência de artistas com quem Monet partilhava as suas “impressões”.
A ponte japonesa que foi colocada em 1893 e vestida de Glicínias é o ponto focal do Jardim d’Água e tantas vezes motivo das composições artísticas do pintor.
Aqui a inspiração japonesa é a que mais se faz sentir.
São sobretudo os jardins da sua casa em Giverny na Normandia que aqui vos deixo numa visita há cerca de 7 anos e num dia de chuva.
Confesso que desde sempre sonhava visitar estes jardins. Surgiu a oportunidade e a visita decorreu num dia de Maio chuvoso, mas a sensação é de estarmos dentro duma verdadeira obra de arte.
Foi essa a intenção do artista que literalmente construiu o “objeto” da sua pintura que se funde nela.
A visita a diversos jardins Botânicos, produtores de plantas, a exposições e à Holanda serviram de inspiração para a criação das florações que vemos na propriedade em Giverny
Eram 7 os jardineiros que cuidavam do espaço e ao longo de 12 meses enquanto Monet foi vivo.
“En dehors de la peinture eu du jardinage, je ne suis bon à rien!”
Para além da pintura e da jardinagem não sou bom em nada!

Claude Monet Fotografado por Nadar
“Ah se não fosse pintor teria sido botânico”
A Casa e os Jardins em Giverny funcionam como um todo. Aqui foi criada a casa ideal para o pintor e a sua família (os dois filhos do primeiro casamento e os seis filhos do segundo casamento com Alice Hoschedé), um paraíso protegido do mundo exterior e rodeado pelo campo que Monet tanto apreciava. Monet foi igualmente considerado um dos precursores do conceito Slow Food. O seu gosto pela gastronomia dos diversos países, o cuidado na composição de cada uma das refeições, a utilização das especiarias, a rigidez nos horários em que deviam ser tomadas, faziam parte do seu quotidiano, de toda a família e convidados.
Sala de Jantar
Salão
Foi também aqui que ganhou o reconhecimento como artista de grande craveira depois de ter sido rejeitado durante anos. A casa de Monet não é um local de peregrinação, apesar dos 600 000 visitantes ano, é uma casa de família e o ambiente de vida quotidiana é transmitido ao visitante.
A propriedade integra dois jardins, o Clos Normand e o Jardim d’Água, que merecem visitas em diferentes alturas do ano. As florações foram pensadas de forma intencional para que ao longo das estações em que é possível visitar (Primavera, Verão e Outono), os jardins tenham motivos de interesse e sobretudo muita cor. De abril a outubro uma sucessão de flores anuais ou bianuais, as perenes, os nenúfares, bolbos floridos, rosas, peónias, túlipas…são milhares de plantas e variedades que mantêm um intenso ritmo de floração. A cor e a água reinam neste espaço que Monet tanto amava.
O Jardim d’Água que Monet considerava a sua obra de arte foi o que implicou um desenho mais radical. Numa primeira fase o pequeno rio Epte passava na propriedade e seguia livre até ao Sena, no entanto Monet pediu autorização para que parte deste pequeno rio fosse desviado – o Rû, permitindo a criação dos pequenos lagos que vemos hoje. A partir desta paisagem aquática criada, Monet acrescentou os salgueiros, a parede de bambo e as bordaduras de rododendros ao longo dos caminhos. Foi este o momento da plantação dos nenúfares, cujas raízes flutuantes suportam as grandes folhas e flores brancas, rosas, verdes e malvas. Infelizmente aquando da nossa visita as flores não emergiram. Na realidade a temperatura da água tem que estar acima dos 16° para que tal aconteça. As suas pinturas Grandes Decorações de Nenúfares marcaram o início da pintura abstrata no século XX e as telas doadas pelo pintor estão expostas, de acordo com o deliberado pelo autor, no Museu L’Orangerie nas Tulherias e, como não podia deixar de ser, com uma profusão de luz natural. Estas pinturas foram executadas ainda durante a 1ª guerra mundial e apesar do caos em que estava a Europa e da proximidade do conflito Monet manteve-se sempre a trabalhar. A doação destas pinturas foi também uma homenagem a todos os que participaram no conflito defendendo a França. Georges Clémenceau, o grande estadista francês e primeiro-ministro na altura foi grande amigo de Monet desde os tempos de juventude, bem como o responsável pela instalação destas no museu em 1927. Clémenceau permaneceu muito próximo de Monet até ao fim da sua vida
Os Nenúfares no Museu L’Orangerie
Com a morte de Monet a propriedade é cuidada pela filha e jardineiros, mas a partir de 1947 existe um período de abandono.
Michel Monet, filho de Claude Monet, falecido em 1966, deixou em testamento a propriedade de Giverny à Academia de Belas Artes.Começou a ser restaurada a partir de 1977 com a supervisão de Gérald Van der Kemp membro da Academia e que também tinha estado envolvido na recuperação do Palácio de Versailles. Os jardins abriram finalmente ao público em 1980.
A Fundação Claude Monet foi criada em 1989 e tem sido presidida por Hugues R. Gall desde 2008.
Todos os jardineiros, voluntários e guias que trabalham na casa e jardins de Monet em Giverny têm um amor especial pelo espaço. A própria aldeia de Giverny e o campo que rodeia esta localidade contribuem para esta unidade de beleza e todos trabalham em conjunto para receber os visitantes. É também um espaço que recebe jardineiros de todo o mundo, os jardins funcionam como um laboratório de conservação e criação.
A ponte japonesa que foi colocada em 1893 e vestida de Glicínias é o ponto focal do Jardim d’Água e tantas vezes motivo das composições artísticas do pintor.
Aqui a inspiração japonesa é a que mais se faz sentir.
Fundação Claude Monet Giverny
Rua Claude Monet, 84 – 27620 Giverny
Tel : + 33 (0)2 32 51 28 21 / Fax : + 33 (0)2 32 51 54 18
www.claude-monet-giverny.fr
contact@fondation-monet.com
Horário : todos os dias
de 1 de Abril a 1 de Novembro
das 09.30 às 18.00